segunda-feira, 15 de agosto de 2011

ArquiPensamentos: Arquitetura contra pessoas?

A primeira coisa que aprendemos em uma escola de arquitetura e urbanismo é que a arquitetura e as cidades são feitas por pessoas e para pessoas.Este é um principio fundamental que nós, arquitetos e urbanistas temos que respeitar, seja num design ergonométrico de um banco de praça, na conversa inicial com um cliente que vai gerar um programa de necessidades e que posteriormente se tornará um projeto arquitetonico ou seja na organização viária que conduzirá os pedestres, ciclistas e motoristas da melhor forma possível ao seu destino.
Independente da escala, QUANDO A ARQUITETURA DEIXA DE SER FEITA PARA AS PESSOAS E PASSA A SER UTILIZADA CONTRA ELAS, TEMOS A OBRIGAÇÃO, COMO PROFISSIONAIS QUE SOMOS, DE TOMAR UM POSICIONAMENTO E RETOMAR ESTES PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE DEFENDEM OS DIREITOS DE CIDADÃO E QUE ESTÃO SENDO COMPLETAMENTE IGNORADOS EM PROL DE MANTER AS APARÊNCIAS.
É verdadeiramente colocar a sujeira pra debaixo do tapete, fechar os olhos pra um problema social de origem histórica.Um pequeno lembrete aos caros governates deste país: NÃO É FECHANDO OS OLHOS QUE AS DESIGUALDADES SOCIAIS DEIXARÃO DE EXISTIR, NÃO É ARREDANDO A POPULAÇÃO POBRE PARA AS PERIFERIAS PARA NÃO "PREJUDICAR A BELEZA DA CIDADE" QUE SEREMOS UM PAÍS MELHOR, MAIS IGUAL.
Arquitetura anti-indesejáveis no comércio do centro de Campinas
Espetos colocados nas escadas da Catedral Metropolitana de Campinas
Infelizmente o que se percebe é uma deliberada adaptação das cidades para que elas se tornem receptivas para alguns e repulsivas para os indesejáveis. Mais do que uma questão estética, porém, essas arquiteturas carregam uma profunda carga simbólica. Quando uma prefeitura chega ao ponto de construir formas urbanas para expulsar os pobres, ela revela que suas preocupações não são coletivas, mas direcionadas a servir aos interesses de uma pequena classe hegemônica.
Arquitetura anti-indesejáveis sob viaduto de Campinas

Por fim, é importante que não nos esqueçamos da forma espacial que mais claramente revela o objetivo de negar e segregar os indesejáveis: a prisão. Independente do local onde tenham sido construídas, as prisões são sempre majoritariamente povoadas pelos outros, o que no caso brasileiro são, sobretudo, os pobres. Além disso, há muito, a preocupação da Justiça brasileira não é a de recuperar seus presidiários e trazer esses outros para perto dos iguais, mas sim mantê-los o maior tempo possível isolados e na eterna condição de outro. Assim como os espetos anti-indesejáveis, as prisões não resolvem os problemas estruturais e profundos da sociedade, mas se contentam em promover uma “limpeza da paisagem”, tirando da vista dos iguais a incômoda presença dos “diferentes”.
Arquitetura anti-indesejáveis na entrada da Faculdade de Direito da Sorbonne, Paris
Pode se, então, concluir que a cidade de hoje, mais do que aquela do passado, nega ao outro a condição de cidadão, negação esta que tem na pobreza o seu principal argumento. E, como pôde ser visto, essa intransigência não se restringe aos atos, pois se concretiza em formas urbanas repulsivas e segregadoras. Com a existência dessas formas, as cidades passam a criar as condições para que a intolerância seja não só mantida como também reproduzida. Confirmando-se essa tendência, chegará certamente o momento em que as cidades de poucos “iguais” se tornarão insuportáveis para uma grande maioria de “outros".
Bancos antimendigos


Calçada de Londres com arquitetura anti-indesejáveis


Rampas em viadutos


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